quarta-feira, 26 de agosto de 2009

É Proibido Fumar

Eu já fumei bastante. Hoje sou ex-fumante chata. Daquelas que reclama da fumaça dos outros, não senta em área de fumantes dos restaurantes, detesta o cheiro impregnado de cigarro na roupa e no cabelo após uma noitada, repara bigodes amarelados, se irrita com vozes roucas de fumantes inveterados, e que tem nojo de bafo azedo de quem fuma. Moçambique está no caminho da civilização quando se trata em respeitar área de fumantes e não fumantes. Na verdade, em moz-português: fumadores. É, aqui não tem fumantes. Tem fumadores. Outro dia fomos em um restaurante e pedimos mesa na área de não-fumadores. Sentamos colados na divisa entre as duas áreas, que por sorte, eram separadas por uma porta de vidro. Percebi um adesivo com um aviso voltado para a área da fumaça. Achei que era tema pro meu blog, crente que o aviso estaria comunicando aos fumantes que era proibido fumar. Mas os dizeres superaram as minhas expectativas! O adesivo informava: “O Tabacco (repare os dois “c”, provavelmente uma onomatopeia do pigarro dos fumantes) é prejudicial para a saúde das crianças, mulheres grávidas, mães lactentes e não fumadores”. Bem, assim, concluo eu que, o tabaco faz mal pra todo mundo, menos aos próprios fumadores! Tirei foto.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Tráfico de Órgãos

É impressionante como assuntos macabros atraem a atenção dos seres humanos. Eu não sou diferente. Pode colocar no jornal uma manchete sobre os resultados da última conferência internacional sobre o desenvolvimento dos países africanos, os resultados das eleições na África do Sul, os impactos das mudanças climáticas na disponibilidade de alimentos, mas nada tem comparação com uma manchete que diz: “Suposto tráfico de órgãos humanos abala a cidade de Tete”. É claro que vou correndo ler aquele babado novo. Nossa! Antes da leitura já vou me perguntando: Será que estão dando aquele golpe do roubo de rins, largando o corpo numa banheira com gelo e um bilhetinho otário do lado dizendo: “procure um médico em 2 horas ou morrerás?” (lembra desse drama do boa-noite-Cinderela que circulou na internet?) Ou quem sabe seria alguma rede de milionários com problemas cardíacos enviando médicos assassinos capturar corações sadios no distante norte de Moçambique? Preciso ler a matéria imediatamente!!!
E é então, meu amigo, que começa a minha agonia. Leio aquela manchete tentadora, e ao ler o subtítulo já percebo que vai ser conteúdo para mais um caso no meu blog. O subtítulo dizia (prova na foto do jornal ao lado): “A polícia descobriu um corpo sem cabeça e sem órgãos genitais, facto que leva à suspeita de se tratar de mais um caso de extracção e tráfico de órgãos”. Gente, a piada não terminou aí, a matéria é toda uma PÉROLA digna de ser lida na íntegra. PRIMEIRO, o texto informa que foi encontrado um corpo sem cabeça e sem órgãos genitais, o que geraria, automaticamente, a suspeita de tráfico de órgãos. Alguém pode me explicar o nexo causal disso? Não percebi a conclusão lógica... Por que um corpo mutilado é consequentemente resultado de tráfico de órgãos? SEGUNDO, mais adiante a matéria informa que em outra margem do rio foi encontrada uma cabeça sem corpo. Bem, então concluo que a cabeça não é um dos órgãos que estavam sendo traficados, certo? Até porque, cabeça não é um órgão, até onde chega o meu limitado conhecimento de anatomia. TERCEIRO, alguém pode me explicar como se dá o tráfico de órgãos genitais? Deve haver um mercado para isso? Prefiro não entender. QUARTO, a foto apresentada no jornal não é a da referida ponte (conheço muuuito bem aquela área. Pegaram qq ponte e tacaram no meio da matéria). A legenda da foto diz ainda que foram encontrados órgãos humanos na margem norte da ponte... Ah! Então afinal acharam os órgãos que haviam sido traficados? QUINTO, após tecer sobre o assunto das cabeças, genitálias e tráfico, a matéria é concluída com um parágrafo sobre vítimas de acidentes de viação (rodoviários, no nosso português). Eu preciso de lógicaaaa!!!!!!!!!! Bem, preciso dizer mais algo?

sábado, 15 de agosto de 2009

A Muralha

Diz a lenda que a China que doou dinheiro para a reforma do muro do Gabinete da Presidência. O local ocupa um quarteirão inteiro, murado desde sempre. É proibido o trânsito de pedestres na calçada. Muitas vezes me pergunto: quem na face da terra cometeria um atentado contra aquela instalação? Mas tudo bem. Fato é que, como vc deve saber, Moçambique é um país que quaaaase não tem deficiências. Dono do quinto pior IDH (dentre os 179 países avaliados pela UNDP), expectativa de vida de 42 anos, e onde 66% dos adultos são analfabetos, então, conclui-se que o país pode se dar ao luxo de gastar o quanto quiser em infindáveis reformas de muros de suas instituições. Comecei a observar, diariamente, um enorme grupo de chineses empilhando tijolos e cimento, aumentando em aproximadamente 1 metro a altura daquele longo muro. Já achei aquilo um desperdício, mas ainda era só início de uma saga que já dura meses. Após o muro estar alto o suficiente, decidiram impor estilo ao mesmo. Começou um quebra-quebra profissional para adicionar quadrados perfurados, ranhuras e desníveis. Em seguida foi a fase do reboco. Um reboco como jamais visto na história da construção civil. Não medi (pq não podemos pisar na calçada do presidente), mas acho que eram aproximadamente uns 30 cm de espessura. Ao final do reboco, pintura branca. Ok. Achei que estivesse concluída a obra espetacular. Ha ha ha. Claro que não. Começaram e repassar o cimento devido às minúsculas rachaduras que se apresentaram na pintura... Após esta correção, a qual durou também questão de mês, trabalhado inclusive aos finais de semana (afinal, era uma obra de urgência), repintaram todo o muro. Achei que estava concluído afinal (estava atenta aos jornais locais, pois esperava uma inauguração com repercussão internacional, dada a dimensão do monumento), mas nãooooooooooo. Ainda faltava. Uma nova leva de chineses, provavelmente com experiência em porcelana real, começou o trabalho de desenhar finas canaletas para decoração da muralha. Claro que as finas canaletas eram feitas com cimento, por cima da terceira branca e alva demão de tinta da muralha. Quase surtei quando vi o estágio avançado da obra, a mil por hora, em pleno sábado. Bem, após os acabamentos, houve ainda mais uma demão de tinta, claro, para finalizar a belezura. Achei que estava pronto. Até que hoje, meses após o início da odisséia, ao passar em frente ao muro, avistei uma nova leva de trabalhadores... ESPANANDO o muro! JURO! Com as inúmeras reentrâncias desenhadas, houve espaço para juntar poeira e teias de aranha, as quais no momento, estão sendo cuidadosamente limpas (VEJA A FOTO!). Espero que meu imposto de renda não esteja contribuindo com as penas daqueles espanadores. Bem, seguindo a lógica do nosso Lula, pelo menos estão gerando emprego, né?

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Aromaterapia

Se tem algo que me irrita nessa vida é viajar de avião aqui na Suicinha (qualquer dia conto esse caso da Suicinha, mas hoje vou focar nos olores). Pra começar, nunca viajo pelo país de avião a passeio. Sendo assim, estressada com o trabalho ocorrido ou com aquele por vir, é que me empenho nas jornadas aéreas. No aeroporto (se é que se pode chamar assim aquela rodoviária de Bom Jesus do Itabapoana) já se inicia o meu ritual de desarmonização da alma. A área de check in é cercada por um tapume, pois, teoricamente, ali só poderiam “fazer fila” (já disse que isso não existe aqui, e não porque em moz-português fila é bicha, mas porque há mesmo uma limitação na condição humana para se organizar em filas) os passageiros. Todas as vezes, na entrada do tapume, os guardinhas pedem a minha passagem. Eu digo: “Senhor, eu tenho apenas o número do e-ticket, não tenho o bilhete em papel”, e eles ficam bem bravos comigo, mas acabam me deixando entrar. Ali, naquele espaço, principalmente no verão, começa a pressurização do ar. Viajar de avião é desestabilizar os chacras. As salas de embarque quando cheias, são praticamente um câmara de gás de Auschwitz. Dentro do avião então, preciso muito me espiritualizar, pois é um empurra-empurra, um colado no outro (mix de óleos essenciais), é um tal de passar quase por cima do outro, cafungada no cangote, levantamento de braços (Socorro!) para colocar quilos de malas no compartimento superior... E do meu lado sempre senta uma gorda. E aí começamos a assar dentro do avião enquanto esperamos resolver algum problema técnico(padrão), e já quase em transe, inebriada com o aroma ambiente, ligam a ventilação. Aí, meu amigo, sai aquele jato concentrado e direcionado ao nariz! Parece que a tubulação de ar recebeu gotas aromatizantes de óleo concentrado de CC Selvagem. E é nesse momento que eu evoluo e penso: se na aromaterapia cada olor tem seu efeito: Lavanda – relaxante; Hortelã – estimulante; Camomila – calmante; Coriandro- excitante; então, eu não tenho dúvida alguma, CC-Selvagem tem o poder comprovado: mau-humorizante!

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Copo D`água

As meninas que trabalham no meu escritório servindo cafezinho, são uns amores. Eu as trato super bem, e elas retribuem da mesma forma. No meu último aniversário me deram um presente e um cartão desejando que aquela data se repetisse por muitos anos, e com votos de “sucesso no teu trabalho, e que continues a ser a nossa estrela”. Fofas, ? Claro que não brigo com elas, nem nas circunstâncias mais malucas, como agora vou lhe contar. Estava aguardando algumas pessoas para uma reunião. Eu e minha colega de sala já tínhamos cada uma seu copo d’água, em posição de reunião na mesa, e os demais 3 convidados para a reunião estavam entrando na sala. Pedimos para uma das ajudantes para trazer então 5 cafezinhos e mais 3 copos. Claro que demorou um bom tempo... E quando já havíamos quase esquecido do pedido, ela entra na sala com os cafés e os 3 copos. VAZIOS. Os coloca na mesa e sai. Simples assim. Concluído o serviço. Nós achamos graça, e eles, ficaram com sede.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Almoço Padrão

12h20 Chego ao restaurante. Das 20 mesas existentes, apenas uma está ocupada. Com fumantes. A recepcionista quer me sentar ao lado deles. Ignoro-a e escolho eu mesma a mesa que vou me sentar. 12h25 Uma garçonete sorridente vem em minha direção. Finalmente. Peço logo uma taça de vinho branco. O almoço não será fácil. 12h30 Três velhos gordos portugueses entram no restaurante. Escolhem a mesa ao meu lado. Saco. Conversam alto. Pedem sopa de marisco. 12h33 Faço meu pedido. “Opção do Dia”. Entrada: sopa de vegetais (legumes, para nós brasileiros), prato principal: “Cabeças de Lulas Grelhadas”. Não quero a sobremesa. 12h45 Com um ângulo privilegiado, posso observar a saída da cozinha. Os pratos de sopa dos meus vizinhos estão enfileirados no balcão. O meu junta-se aos deles. 12h50 As sopas esfriam. O cozinheiro aproxima-se do balcão com um pano de prato de 1950. Em uso. E limpa as bordas das tigelas de sopa. Hummmmm... Tempero da casa. 12h52 A sopa chega em minha mesa. Experimento. Está boa. Os vizinhos reclamam que seus pedidos não vieram conforme solicitado. Eu decido escrever. Minha taça está pela metade. Devo pedir outra? 13h00 O restaurante continua com apenas 3 mesas ocupadas. Na cozinha 7 pessoas trabalham. No salão, 9. (Pode haver desemprego neste país?). 13h05 Não vou pedir outra taça. Peço para vir meu prato principal (as cabeças de lulas grelhadas). 13:10 Chega o meu prato: “Tentáculos Tenros com Muitas Ventosas de Lulas Idosas a Milanesa”. Ah! Acompanhado com, batatas “fritas” morrendo afogadas no óleo. 13h12 Peço a conta. 13h13 A mesma chega. Com o gerente se desculpando e perguntando se o prato não estava “do meu gosto”. Preferi sorrir e agradecer.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Eu queria um misto-quente

Aqui em Moçambique temos que ter cuidado ao nos expressar. A língua, apesar de ser oficialmente a mesma que falamos, tem muitas diferenças. Diminutivos nem sempre são entendidos, gerundios nem pensar!, formalidades são exigidas, e frases coloquiais devem ser abortadas. Sem falar do vocabulário! Xícara é chávena, vaso sanitário é sanita, varal de roupas é estendal, isopor é esferovite, mesa de escritório é secretária, escritório é gabinete, van é carrinha, bolsa é pasta, legal é giro, de graça é de borla e carona é boleia. Pequeno dicionário da língua portuguesa. Se eu quero chamar um garçom no restaurante devo falar: “se faz favor”; se eu quero dizer que entendi o que estão me falando, eu digo: “percebi”, se estou te falando algo, “estou a dizer”, se algo demora muito: “há de vir”, se quero jogar um papel no lixo, peço para “deitar fora”, eu não coloco uma blusa de frio, eu “meto uma camisola “, e por aí vai... Um dia cheguei no escritório cedo e não havia ainda tomado meu café-da-manhã (não havia mata-bichado, ou tomado meu mata-bicho), e fui pedir então para um ajudante comprar um misto-quente para mim (uma tosta-mista), ou um sanduíche qualquer (uma sandes), na lanchonete (pastelaria – mas não vende os nossos pastéis, e sim bolinhos e sanduíches). Eu disse (rasgando o meu moz-português): - Sr. Paulo, se faz favor, podes ir na pastelaria para mim? Eu queria uma tosta-mista. E ele, rindo da minha ignorância: - Não Dona ... A senhora não QUERIA uma tosta-mista. A senhora QUER uma tosta-mista. Eu concordei.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

B.O.

Eu e minha amiga decidimos ir para a night maputense. Como de hábito, fizemos uma concentração em casa e lá pela 1h da manhã seguimos em direção ao Mambo`s. O bar dançante era bem legal, aliás o único que eu realmente gostava de ir, mas naquele dia a música estava péssima. Como a night aqui termina lá pelas 7h da manhã, quando eram umas 3h resolvemos ir para outra boate. Quando saímos para pegar o carro, vi que havia sobrado muito pouco dele. O lado esquerdo. Um louco, numa caminhonete, entrou em cheio no meu carro estacionado. A polícia e o gerente da boate estavam lá aguardando que eu terminasse de me divertir, para que pudéssemos conduzir o infrator à delegacia (ao comando, como chamam aqui). E lá fomos nós. Como estávamos só eu e minha amiga, achamos prudente chamar algum colega homem para nos acompanhar, afinal, todos diziam que o comando era um lugar sinistro. Decidimos ligar para o gerente administrativo do nosso escritório. Ele era um cara legal, mas não saía de casa nunca, e era bem provável que às 3h da manhã estivesse em casa. Ligamos, e ele estava acordado! Jogando playstation! Foi nos acompanhar. No comando, os policiais me conduziram, junto com o infrator, para um cubículo de 1x1m. O bafo de álcool do cidadão dominou o ambiente, e eu, só na aba dele, já estava quase bêbada. A sala contava com uma micro-mesa de madeira, uma cadeira bamba (para o policial sentar), e um semi-banco de alvenaria, no qual cabia uma banda da minha bunda e a outra banda da bunda do infrator. Havia em cima da mesa duas folhas de papel ofício e uma caneta Bic. O guarda começou perguntando para o infrator: - A que horas foi o acidente? O infrator: - Lá pelas 21h... E eu: - Como, senhor??? Quando eu estacionei meu carro lá na rua já era 1h! E o infrator, sem se demorar: - ah! Então foi lá pelas 2h30! (Fiz minha cara de “CARACA MALUCO!”), e por aí foi o depoimento do doido. Ele falando asneiras, eu corrigindo, e ele concordando perfeitamente. O policial anotava tudo no papel com uma letra bem linda, e se esforçando para escrever em linha reta. Do lado de fora da sala, via minha amiga no corredor, com uma lata de cerveja na mão, a qual ela dividia com nosso gerente-administrativo-jogador-de-playstation. A única coisa que me interessava naquele momento era pegar o tal do B.O., ir pra casa dormir, e no dia seguinte acionar o seguro. Eu não aguentava mais esperar pelo bendito documento. Uma hora depois, o depoimento chegava ao fim... Eu já estava quase surtando de sono, e fazendo as contas de quanto tempo ainda levaria para o policial levar seus rabiscos para uma outra sala, onde haveria um computador, ou melhor, uma máquina de escrever, digitar aquilo tudo, gerar um número para o B.O., imprimir, e me entregar uma cópia... quando, de repente, ele dobra o papel ofício, lança mão de sua comprida unha do dedo mindinho para apertar bastante a dobradura, molha a pontinha afiada do papel com sua língua, rasga o papel, e me dá aquele pedacinho, A6, me informando que aquilo era o B.O! Deus! O seguro pagou o carro.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Queima ele!

Eu e meu marido moramos e frente para a praia, um visual muito bonito. O entardecer é um espetáculo. Num sábado desses, estávamos sós, fazendo um churrasquinho, curtindo a vida a dois. Resolvemos descer de casa e ir até a praia, ver o mar de perto, e admirar os rosas e liláses do por-do-sol. Na praia tem um pier comprido, e resolvemos ir até a ponta dele. No percurso passamos por quatro homens, que estavam sentados na beira do pier, tomando cerveja e conversando. Como vivemos em Moçambique há tantos anos, nos acostumamos com a tranquilidade local, e com a ausência do preconceito brasileiro PPP (preto=pobre=perigo). Nem ligamos para o grupo, passamos direto e fomos curtir nosso passeio. Ficamos namorando e vendo as ondas batendo nas pedras... tudo lindo e romântico. Já começava a escurecer e decidimos voltar. No caminho de volta decidimos descer do pier um pouco antes do grupo de rapazes, e caminhar pela areia. Nada de preconceito ou receio, apenas uma alternativa de percurso. Foi quando os quatro começaram a correr e vieram para cima de nós dois. Meu marido me empurrou para eu correr mais na frente e eu saí gritando igual uma sirene louca, enquanto eles o pegaram. Deram-lhe um soco e roubaram o celular. Com o meu escândalo, os guardas do nosso condomínio, e dos vizinhos, correram para a praia para ajudar. Os ladrões começaram a fugir, e meu marido, num súbito ataque-de-muito-macho, saiu correndo atrás deles. Bem, o barraco estava armado, os guardas deram tiro, a polícia-ninja-a-paisana apareceu, confusão total. No meio da confusão meu marido ainda estava desaparecido, correndo atrás dos ladrões, e eu histérica procurando por ele. Um português e seu filho, de uns 12 anos, surgiram do além e tentavam me acalmar. Nesse momento, os guardas aparecem de volta carregando algemado 1 dos bandidos. Na delicadeza do cacetete, o empurravam pela rua, conduzindo-o para a guarita de segurança, e eu fui andando um pouco atrás, com o portuga e o filho do meu lado. Os guardas disseram que estava tudo bem com meu marido e que ele estava com os policiais ali perto, já “havia de vir”. Enquanto caminhávamos, o moleque português procurava me tranquilizar... a senhora pode ficar calma, já pegaram um dos bandidos, vão pegar os outros, e agora vão tocar fogo nele! Eu disse: - Quê isso criança!?! Não vão fazer isso não! Tá maluco? Mas o moleque estava animado:- Ih, Senhora! A senhora não sabe nada. Aqui é assim! Quando pegam bandido, queimam eles! E correndo para o guarda, gritou: - Queima ele, queima! PS: Claro que não o queimaram. PS2: E claro que não fiquei calma até que os bandidos foram colocados na mala de um carro e levados para a delegacia. PS3: Na mala mesmo.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

O cardápio

Minha paciência estava esgotada. Meus colegas me chamaram para almoçar e sugeriram o Japonês. É “O Japonês” mesmo. Só tem um. No país todo. Bem, como eu havia andado por tanto tempo por uma fase anti-social, só comendo em casa, e fugindo de qq compromisso colegativo, decidi ceder, e fui pro restaurante com eles. Chegamos às 12h30. Só tinha uma mesa ocupada, e escolhemos a nossa. Sentamos o mais perto possível da porta, pois o cheiro de gordura do Japa é enlouquecedor. Não cheira a peixe cru, como todo japa do mundo, aquele cheira a Pastelaria do tio Zé. Tenho que dar umas duas demãos de shampoo no meu cabelo quando saio de lá. O cardápio chegou, havia mudado, estava renovado. Como fazia tempo que eu não ia lá, e estava com um súbito ataque de simpatia, resolvi comentar alegremente com a garçonete: - Renovaram o cardápio, ? Ficou bonito! Parabéns. Bem, ela não entendeu nada, e me olhou como se eu fosse um ET. Pensei: bem, eu me esqueci que aqui não se fala cardápio, é MENU, por isso ela não entendeu nada... Ou ainda, ela entendeu mas achou que eu estava de zoação.... Ou ainda, ela não se sente nem um pouco parte daquilo, pq eu teria que dar os parabéns à ela? Deve ter me achado uma louca. Fizemos os pedidos sem olhar demais o cardápio. As opções não são muitas e já conhecemos de cor até o número dos pratos na lista do menu. 15 minutos depois(a cozinha devia ser muito longe dali, ou o cozinheiro falava muito devagar), praxe local, a garçonete volta com uma cara de “desculpe, tenho algo constrangedor pra te falar”. Ela diz: - É que o guioza vai demorar pra ficar pronto. Eu: – Tudo bem, vc pode trazer o sushi, a gente vai comendo e depois comemos o guiosa. Ela: – Não... É que vai demorar muuuito. EU: - Muito quanto? Ela: – Ainda estão sóooo começando a fazer a massa... Conclusão: Um absurdo eu querer fazer o pedido bem na hora do almoço. Que coisa mais despropositada a minha, não? Peguei o menu de novo para escolher outra coisa. Fui passando a vista na lista de pratos que eu já sabia de cor. O cardápio tinha mudado só a capa, o conteúdo era o mesmo, com letras impressas em itálico, fonte Times New Roman, tamanho 14, e fotografias de sushis e tempuras em jpg, com aproximadamente 0,01 mega pixel. Fui observando o novo-velho cardápio, e parei a leitura quando meus olhos se encheram de lágrimas de tanto rir com a seguinte frase destacada em negrito: “As fotos do menu não correspondem aos pratos”. Tudo bem.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Elevadooor!

Uma das coisas que notei logo que cheguei em Maputo, foi que não haviam muitos elevadores em operação na cidade. A capital, e maior cidade de Moçambique, com seus mais de 1milhão de habitantes (que sobem escadas), tem sim diversos prédios de muitos andares, e tem sim muitos elevadores, mas vááááários vivem quebrados. Bem, o do prédio que eu trabalhava funcionava. Direitinho. Só não tinha exaustor/ventilador, o que era um desespero. Tudo bem. O elevador, apesar de funcionar bem, atendia a muitos andares, e era comum juntar gente no hall de espera. JUNTAR GENTE, veja bem, porque FILA é um capítulo a parte, e merece um caso só seu. O térreo (rés do chão - RC, de acordo com o moz-português) ficava quase no meio do prédio, pois haviam uns 5 andares de garagem no subsolo (fico pensando no custo da obra) e uns 8 andares de escritórios depois da linha do chão. Isto significa que, parar o elevador no térreo e perguntar: -Sobe?? Ou: - Desce?? Faz todo sentido. Mas a coisa que me impressionou, e que eu PRECISO dividir com você, é que, apesar da existência de dois botões para chamar o elevador, ilustrados com duas setas muito elucidativas e didáticas, apontando uma para cima, e outra para baixo, à sua escolha, conforme o seu destino preferido, o povo chamava o elevador de acordo com uma outra lógica. Se observassem no painel que o elevador encontrava-se em andar alto, apertavam o botão para baixo. CLARO! Eles estavam no térreo e queriam que o elevador descesse, então tinham que chamá-lo para baixo! Assim como, no fim do dia, quando estavam em seus andares elevados, querendo descer para o térreo, naturalmente pressionavam o botão que informava SUBIR. Ora pois pois, eles não queriam mesmo era que o elevador subisse para buscá-los? Juro que tentei ensinar para vários colegas o como funcionava a lógica do elevador, mas desisti, e até hoje continuo passeando de carona no elevador por todos os andares, até chegar ao meu destino. Será que não teria no elevador um botão com a letra “I”, com destino ao subsolo? Assim, todos poderiam ir para o Inferno! PS: Estou super calma, hoje. PS2: Preciso me elevar. PS3: Vou chamar o elevador.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

O Parafuso, Se Faz Favor

Em toda cidade em que circulam carros, circulam ladrõezinhos, circulam peças e acessórios roubados, que circulam nas mãos de espertos e espertalhões, em uma “robauto” ou similar. Em Maputo não é diferente. Um dos primeiros carros que eu tive aqui, foi um Honda Civic (ok. sem comentários sobre o quão inapropriado para ruas semi-asfaltadas foi o carro). O carro tinha umas lanterninhas laterais, as quais eu tinha que re-instalar uma vez por mês, em média. Bastava parar por 30minutos na rua, que roubavam a desgraçada. Eu havia visto carros semelhantes ao meu com uma trava de ferro cobrindo a lanterna. Eu achava aquilo horrível. Achei que colocavam aquelas peças por parecerem modernas, um acessório fashion, esportivo. Depois percebi que a fora de moda era eu, que não prevenia o roubo da minha lanterna... Mas voltando ao caso, hoje tenho uma caminhonete (four by four, como dizem na língua local anglo-moçambicana). A minha empresa, proprietária oficial do carro, por razões de segurança pessoal e patrimonial, andou instalando em meu carro tudo quanto era acessório disponível no mercado. O carro parece uma exposição de adereços off-road. Tem santo antônio cromado com grade, faróis de longo alcance e de nevoeiro, protetor de caçamba, lona marítima,,,, Só não instalaram o que não havia ainda sido importado pela autorizada. Bem, e é claro que meu carro continua sendo prato cheio para a “robauto”. É uma espécie de self-service gratuito dos larápios. Outro dia roubaram um dos parafusos que fixam a roda do carro. Não sei quanto tempo levei para notar a ausência dele, mas esse eu teria que repor, afinal, é perigoso andar por aí com um parafuso a menos. Aproveitei uns dias que eu estaria fora da cidade, e deixei o carro com o motorista (Sr. Denso). Pedi a ele (em moz-português): - Se faz favor de levar o carro à autorizada, comprar um novo parafuso e pedir para meterem no lugar. Aproveite para pedir que apertem bem os outros parafusos tb! Ele respondeu: - Sim, sim. Quando retornei de viagem pedi que me buscasse no aeroporto. Perguntei: - E então, Sr. Denso? Colocaram o parafuso na roda? E ele: - Ahn? Não percebi.. Parafuso? E me levando para circular ao redor do carro, eu achando que me mostraria o pneu, e consequentemente, o novo parafuso, quando me deparo com um novo pára-choque! Prateado. Eu fiz uma cara de: CARACA, QUE ABSURDO! EU SÓ PEDI UM PARAFUSO!!!! E ele, meio sem graça, não me justificou o pq não haviam instalado o novo parafuso, nem o motivo de colocarem o novo pára-choque, mas gastou um tempão para me explicar que não instalaram os estribos laterais cromados porque estavam em falta... Quem paga a conta?

terça-feira, 14 de julho de 2009

Saída de emergência

Às vezes penso se sou eu que já ultrapassei há anos o limite da paciência, ou se realmente o mundo conspira para me irritar. Era hora do almoço e eu saí para almoçar (simples assim). Tinha deixado meu carro estacionado na rua de trás do shopping (bem... shopping... é assim que o chamam, vamos manter a denominação). Entrei pela porta principal, atravessei os longos 15 metros da galeria, e em menos de 10 segundos atingi o final do corredor. A porta de saída para a rua de trás do shopping, era uma porta de emergência. Destas portas tradicionais de prédios públicos, anti-pânico, a qual não tem nem maçaneta, apenas uma barra retratil, que basta empurrá-la que a porta milagrosamente se abre e vc atinge o seu grande objetivo: chegar do outro lado. Achei que a tarefa fosse fácil. Não. Nada é fácil. Havia uma moça em minha frente. Ela, de óculos escuros Dolce & Gabbana (o logotipo dourado era quase maior do que a lente escura), sapato alto prateado (meio-dia), e calça jeans super justa para ressaltar seu super-hiper-grandíssimo traseiro afro-africano. A moça estava nervosa, e eu mantive a distância de segurança. Uns 2 metros. Ela puxava a porta com toda sua força, levantava a alavanca enérgicamente e gritava com o segurança: - Esta porta não abre! O segurança levantou lentamente sua sobrancelha, e olhou pra ela com aquela cara de pós-feijoada, tipo: “eu estou tão tranquilo... quer um lexotan também?” Percebendo que a cena duraria mais uns 10 minutos, decidi agir, dei três passos à frente, e com dois dedos empurrei a porta, abrindo-a completamente. Ainda cedi espaço para que os óculos DG e todo o comboio aprisionado nos jeans da senhora, pudessem se retirar do local. Almocei refletindo em como seria divertida uma simulação de incêndio no shopping.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

O gato que matou a vizinha

Mais um caso surreal da senhora que trabalha lá em casa. Pegamos uma gata pra criar. Já que não temos filhos, e meu marido andava carente de ter trabalho adicional, um belo dia dei de cara com um estrupício lá em casa. Era uma gatinha, ultra-vira-lata, com a qual meu marido resolveu me surpreender. Fiquei muito p. da vida, pois eu já estava ok com a história de termos um gato, mas eu estava imaginando uma gatinha peluda persa, ou uma doce siamesa, ou uma dengosa angorá, quem sabe? Nunca cogitei a ideia de um estrupício sub-nutrido. Bem, a bichinha não devia pesar nem 100gramas. Era praticamente uma ponto final preto, que tinha vida própria e circulava pela casa. Bem, um pontinho que se tem de alimentar e limpar xixi e cocô (coisa q meu marido, convenientemente, “não sabe” fazer). Claro que eu também já defini logo que não seria a responsável pela higiene diária da gata. Bem, sobrou para a empregada. No primeiro dia de contato entre nossa ajudante e o estrupício, eu não estava presente. Meu marido notou a cara de pavor da empregada, e disse: - “Olha, a gatinha é boazinha, só faz suas necessidades no lugar certo, e come ração! Não vai dar trabalho...” E a empregada: - “É que eu tenho medo...” Meu marido ficou meio espantado com uma mulher daquele tamanho ter medo daquele pontinho preto e arrepiado (na verdade, era quase um asterisco), e perguntou: - “Mas pq medo? Ela não faz nada. É tão pequenina...” E ela: - “É pq uma vez, teve um vizinho meu que foi atacado por um gato... o gato mordeu ele... Atacou, pulou no pescoço dele e ele morreu!” (o vizinho, e não o gato) Well, nesse caso, é melhor a gente torcer para que estrupício não cresça muito, né?

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Daleman

Detesto conversar com desconhecidos. Ainda mais em avião. Mas neste dia eu estava com um ataque de simpatia e resolvi responder e colegar com a senhora ao meu lado, no curto vôo entre Johannesburg e Maputo. Ela era Moçambicana, me disse que nasceu em Chokwé, na província de Gaza, que morava em Nampula, mas que havia vivido muitos anos em Portugal. Eu disse que era brasileira, que trabalhava numa grande empresa e fui transferida para Moçambique, que gostava muito de Maputo, bla bla, bla. Ela me perguntou se eu era casada, eu disse que sim, e que tinha conhecido meu marido em Maputo mesmo. E ela perguntou, LOTADA de sotaque luso-moçambicano:- Ah! Ntão el`é Moçambicano? E eu: - Não.. é brasileiro mesmo, ele é de São Paulo, eu sou do Rio... Aí ela: Ahn... Eu sou mexmo de Gaza, como disse, mas meu marido é “D`aleman”. E eu (SUPER simpática e colegativa): Ah é? Não conheço... em qual província fica? Ela respondeu: - Na Europa. Calei a boca e achei melhor não consertar. Ela deve dizer pra todos que conheceu a brasileira mais completamente ignorante em geografia, do mundo.

Feitiço Senhora, Feitiço.

Isabel, a ajudante que trabalhava lá em casa, vivia adoentada. Estava cada vez mais magra. Uma semana faltava porque estava “com a malária”, depois era uma gripe forte... Coitada, ela não queria me deixar na mão, mandava a irmã em seu lugar, mandava a filha, vinha trabalhar se arrastando. Eu morria de pena, pagava médico particular (dava o dinheiro, não ia junto, sei lá se ela usava o dinheiro para o médico mesmo, mas eu fazia a minha parte...). Bem, eu já tinha o diagnóstico: HIV/SIDA. Mas não falava nada com ela. Ou ela não desconfiava mesmo ou tinha pavor de eu descobrir e a demitir por isso. Só sei que a condição de saúde dela estava cada vez pior. Eu comprava vitaminas, comida, tentava ajudar. Mas... bem... só quem já viu os horrores desta doença em um mundo pobre e preconceituoso é que sabe... Um dia não aguentei e comecei a forçar a barra para ela me dizer o diagnóstico, assim, falando abertamente, quem sabe eu poderia ajudá-la de verdade. Ela estava com as pernas enfaixadas e disse ter ido à um neurologista (de acordo com ela: médico dos nervos), eu perguntei o quê ele havia dito sobre o problema dela, e ela me relatou que estava com o sistema nervoso (fiquei feliz por isso, imagine se ela não tivesse um!). Eu insisti: - Mas Isabel, me diga exatamente as palavras do médico. Me diga o que ele disse que você deve fazer. Qual é o tratamento? E ela baixou a cabeça, muito triste, e disse baixinho: é feitiço senhora, feitiço.

Onde estou?

Meu amigo, Maurício, mudou-se pra Maputo, e enquanto sua família também não vinha, ficou vivendo em um hotel. Todos ali o conheciam, entrava e saía, simpático, cumprimentava a todos. E como todo morador de cidade pequena, nem atentava para o endereço formal de sua “residência”. Bastava dizer: moro ali no hotel Terminus, ou, naquele hotel que fica na paralela à Julios, sabe? Entre a 24 e a Eduardo Mondlane... e todos os locais sabiam chegar. Maputo nem é tão pequena, mas a circulação de estrangeiros é mesmo resumida à aproximadamente 1% da cidade. O 1 % meio asfaltado. Bem, eis que um dia chega do Brasil mais um colega, e este não sabe se locomover nem mesmo no 1% que lhe cabe. O colega deveria encontrar-se com Maurício no hotel Terminus, mas, novatamente, não sabia onde este se encontrava. Ligou para o celular de Maurício, que encontrava-se em seu quarto, e pediu-lhe o endereço. Maurício disse: - Peraí que não sei, mas vou ligar para a recepção pra perguntar. E ligando pelo ramal do hotel para a recepção, atendem: “Recepção, sim, sim, se faz favor, Sr. Nuno falando, , sim.” - Sr. Nuno, boa tarde, sou eu, Maurício, preciso informar o endereço daqui. Onde estou? - Olhe Sr. Maurício, o Sr está no seu quarto! Maurício ficou feliz em saber que não estava perdido.

Banana Caramelada

Chegamos no restaurante Chinês. Já na porta fiquei impressionada com a decoração. A fachada era toda de vidro, mas talvez para dar um pouco de privacidade aos clientes, ou para acrescentar mais charme ao recinto, havia uma cortina rendada (guarda-poeira) nas janelas. Na marquise, do lado de fora, estavam penduradas umas 3 lanternas chinesas, vermelhas, quase amarelas de tão encardidas pelo sol. Para dar um toque alegre, haviam na porta Papais Noel de papelão, com braços e pernas articuláveis. Sabe do que estou falando? Aqueles enfeites natalinos da Uruguaiana? Ficavam todos amarrados entre si por um barbante que tinha suas extremidades presas na beira da fachada. Um show. Era julho e a temperatura estava boa, nada de calor, 25graus, quase frio para Maputo. Peraí! Julho? O quê aqueles Papais Noel estavam fazendo na porta do restaurante??? Sei lá. Melhor não perguntar pra não ofender, ? Ou os funcionários os viam todo dia na porta na hora de abrir o restaurante, e depois quando já estavam dentro esqueciam de retira-los, e na hora de ir embora viam de novo, mas já estavam com preguiça e deixavam pro dia seguinte, e no dia seguinte tudo acontecia de novo, ou simplesmente acharam tão bonitinhos aqueles mimos da Uruguaiana (made in China) que resolveram deixar pra sempre lá. Ou até que o sol os desintegrasse. Será que na China o Papai Noel tem olho puxado? Em Moçambique os Papais Noel são muitas vezes negros, e as renas são elefantes … mas isso é uma outra história. Mas não acabou. O restaurante ainda iria se tornar memorável. Mais. Éramos uns 8 colegas. Estávamos em um almoço de trabalho. Comemos toda aquela gordura trans chinesa, e de sobremesa uma colega pediu salada de fruta com sorvete. A garçonete disse que não tinha. Mas minha colega disse: - olha, mas tem salada de frutas e tem sorvete no cardápio, então me cobre as duas sobremesas, mas coloque a salada de fruta numa taça com uma bola de sorvete em cima, tá? A garçonete: - Desculpe, não temos. Não posso. Bem… era melhor nao argumentar e prepar a iguaria na mesa. Eu resolvi pedir banana caramelada. Pensei naquela banana caramelada do China in Box, no Brasil.. mas achei que talvez a banana caramelada daquele restaurante fosse apenas aquela banana mole com uma calda de caramelo mais mole ainda. Resolvi perguntar: - Moça, essa banana caramelada é aquela que vem com um caramelo durinho e fica coberta com uma casquinha? A garçonete: - não senhora, a banana vem sem casca mesmo. Achei melhor ficar sem sobremesa. Hora do cafezinho! A garçonete é chamada e fica em pé ao lado da nossa mesa, caderneta de pedido e caneta em mãos, olhos atentos, enquanto meu chefe começa a longa rodada de perguntas sobre café ou chá, apontando e perguntando uma a um, enquanto a garçonete deveria estar anotando os pedidos. Fulano, café ou chá? Fulano respondia: Um expresso simples. Ciclano: um café simples. Fulana: pra mim um chá verde. Ciclana: um expresso duplo… E enquanto esta rodada ia, a garçonete calmamente, só observando as perguntas e respostas, sem anotar nada, aguardava a soma dos pedidos. E por aí foram 7 perguntas, 7 respostas sobre café, tipo, ou chá, e concluindo com o pedido do meu chefe, ele decide colaborar com a garçonete, e resume o pedido conferindo o resultado: - Então são 2 expressos simples, 2 cafés simples, 3 expressos duplos e um chá verde. É só neste momento, após nos observar escolhendo com tanto gosto nossos pedidos, que a garçonete informa: - Desculpe senhor, não temos café. Bem, após rir por 15 minutos, tomando chá, pedimos a conta. E a garçonete, em pé ao lado da mesa, deve estar até agora sem entender do quê achamos tanta graça. Mas demos gorjeta.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Nomes, Sobrenomes e Apelidos

Apelido, no português de Moçambique, é sobrenome. Acredite MESMO nisto! Na forma brasileira da língua, apelido é a designação informal para identificar uma pessoa, uma alcunha. Mas na forma moçambicana da língua, apelido é parte do nome de um indivíduo que indica seu vínculo familiar; o nome de família; o sobrenome. Todo país tem uma lista de nomes ou sobrenomes engraçados dos quais já se teve registro. Eu tenho alguns exemplos de nomes e sobrenomes moçambicanos, os quais não só ouvi falar, mas sim são de pessoas que eu efetivamente conheci, como: o Sr. Sabonete; Sr. Alface; Sr. Feijão; Sra. Felicidade; Sr. Respeito; Sra Dengo; D. Higiene; Sr. Nabunda; Sr. Denso; Sr Colarinho; Sr Castigo; Sr. Fumo, D. Epifania. Todos estes são NOMES ou SOBRENOMES de pessoas que conheci, convivi, trabalhei junto. E não são seus apelidos, na forma brasileira da língua. E aprendemos aqui que os nomes e sobrenomes tem muito significado, muitas palavras tem relação com a língua materna deles. Curioso que começamos então a achar que tudo tem que ter um quê meio místico. Tenho um colega Moçambicano que se chama Arão Arone Dava. Um outro colega nosso, brasileiro, encantado com a mistificação de tudo, perguntou: - Arão, o seu sobrenome significa o quê? O Arão responde: Meu apelido? Dava? Ah! Significa o verbo dar no passado. Depois de rir por 15 minutos eu só faria uma alteração na resposta realista dele: Pretérito Imperfeito do indicativo.

A crista do galo

A senhora que trabalha lá em casa é de confiança, arruma a casa direitinho, não frita nem um ovo, e decidiu que seu expediente acaba no máximo às 14h. Tudo bem, vou levando. Mas uma coisa me irrita demais: quando ela quebra minhas coisas. Tem uma mão mole que vou te falar! Meu marido lindo, que é mão aberta mas não se dá ao trabalho de me comprar presentes, uma vez, no dia dos namorados, decidiu me fazer surpresa. Comprou um par de castiçais de cristal rosa, imitando uma flor, algo semi-cafona. Mas eu adorei. Coloquei na minha mesinha de cabeceira e um deles não durou nem uma semana. Fiquei irada. Isso sem contar os inúmeros copos e taças, vasos e qualquer outra coisa que se parta em mais de 2 pedaços ao atingir o chão a partir de uma altura de meio metro. Algumas coisas achei que poderiam ser coladas, e comprei uma super-bonder genérica para tal. Mas foi daí que a minha ajudante decidiu que seus problemas estavam solucionados! Agora era quebrar e colar antes de eu ver! Nós temos um galo de madeira, tamanho real, também semi-cafona, mas adoramos ele. Um belo dia estava eu sentada no sofá da sala, observando placidamente a minha casa, quando achei algo estranho no galo. Havia algo de confuso, muito esquisito, meio punk, naquela crista. Cheguei mais perto para ver melhor... a crista estava quebrada e havia sido colada ao contrário, de cabeça pra baixo!! Nem briguei com a empregada. Chorei de rir.

Cenourinha

Assim que cheguei aqui em Maputo, logo me indicaram uma moça para trabalhar em minha casa. Isabel. Ela era um amor, 34 anos, 3 filhos, sem marido, e muito dedicada. Isabel não era uma excelência nos trabalhos domésticos, mas era tão doce que eu não tinha coragem nem de discutir quando fazia algo errado. Naquela época eu costumava almoçar em casa, e além de limpar e lavar, pedia para Isabel fazer almoço. Ela fazia com gosto, pois além de almoçar também uma comidinha balanceada, ainda podia levar as sobras para casa. Ela não sabia cozinhar direito (muito menos eu), e a criatividade para o cardápio era nula. Então, todo dia de manhã eu dizia pra ela o que queria para o almoço, explicava um pouco como deveria ser feito, e ao meio dia eu tinha uma surpresa. Boa ou ruim. Mas acabava comendo. Um dia pedi à ela que fizesse um frango assado, arroz e uma cenourinha refogada para acompanhamento. Expliquei para ela que era pra cortar a cenourinha em pedaços pequenos, cozinhar um pouco e refogar. Neste dia ainda chamei um colega para almoçar em minha casa. O cardápio era simples e não tinha como ela errar. Quando chegamos em casa me senti em um SPA ao ver o tamanho da porção. Meu colega não entendeu muito bem a minha cara de riso e espanto ao mesmo tempo. Ela havia feito mesmo UMA cenourinha.