quarta-feira, 22 de julho de 2009

B.O.

Eu e minha amiga decidimos ir para a night maputense. Como de hábito, fizemos uma concentração em casa e lá pela 1h da manhã seguimos em direção ao Mambo`s. O bar dançante era bem legal, aliás o único que eu realmente gostava de ir, mas naquele dia a música estava péssima. Como a night aqui termina lá pelas 7h da manhã, quando eram umas 3h resolvemos ir para outra boate. Quando saímos para pegar o carro, vi que havia sobrado muito pouco dele. O lado esquerdo. Um louco, numa caminhonete, entrou em cheio no meu carro estacionado. A polícia e o gerente da boate estavam lá aguardando que eu terminasse de me divertir, para que pudéssemos conduzir o infrator à delegacia (ao comando, como chamam aqui). E lá fomos nós. Como estávamos só eu e minha amiga, achamos prudente chamar algum colega homem para nos acompanhar, afinal, todos diziam que o comando era um lugar sinistro. Decidimos ligar para o gerente administrativo do nosso escritório. Ele era um cara legal, mas não saía de casa nunca, e era bem provável que às 3h da manhã estivesse em casa. Ligamos, e ele estava acordado! Jogando playstation! Foi nos acompanhar. No comando, os policiais me conduziram, junto com o infrator, para um cubículo de 1x1m. O bafo de álcool do cidadão dominou o ambiente, e eu, só na aba dele, já estava quase bêbada. A sala contava com uma micro-mesa de madeira, uma cadeira bamba (para o policial sentar), e um semi-banco de alvenaria, no qual cabia uma banda da minha bunda e a outra banda da bunda do infrator. Havia em cima da mesa duas folhas de papel ofício e uma caneta Bic. O guarda começou perguntando para o infrator: - A que horas foi o acidente? O infrator: - Lá pelas 21h... E eu: - Como, senhor??? Quando eu estacionei meu carro lá na rua já era 1h! E o infrator, sem se demorar: - ah! Então foi lá pelas 2h30! (Fiz minha cara de “CARACA MALUCO!”), e por aí foi o depoimento do doido. Ele falando asneiras, eu corrigindo, e ele concordando perfeitamente. O policial anotava tudo no papel com uma letra bem linda, e se esforçando para escrever em linha reta. Do lado de fora da sala, via minha amiga no corredor, com uma lata de cerveja na mão, a qual ela dividia com nosso gerente-administrativo-jogador-de-playstation. A única coisa que me interessava naquele momento era pegar o tal do B.O., ir pra casa dormir, e no dia seguinte acionar o seguro. Eu não aguentava mais esperar pelo bendito documento. Uma hora depois, o depoimento chegava ao fim... Eu já estava quase surtando de sono, e fazendo as contas de quanto tempo ainda levaria para o policial levar seus rabiscos para uma outra sala, onde haveria um computador, ou melhor, uma máquina de escrever, digitar aquilo tudo, gerar um número para o B.O., imprimir, e me entregar uma cópia... quando, de repente, ele dobra o papel ofício, lança mão de sua comprida unha do dedo mindinho para apertar bastante a dobradura, molha a pontinha afiada do papel com sua língua, rasga o papel, e me dá aquele pedacinho, A6, me informando que aquilo era o B.O! Deus! O seguro pagou o carro.

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