sexta-feira, 10 de julho de 2009

Feitiço Senhora, Feitiço.

Isabel, a ajudante que trabalhava lá em casa, vivia adoentada. Estava cada vez mais magra. Uma semana faltava porque estava “com a malária”, depois era uma gripe forte... Coitada, ela não queria me deixar na mão, mandava a irmã em seu lugar, mandava a filha, vinha trabalhar se arrastando. Eu morria de pena, pagava médico particular (dava o dinheiro, não ia junto, sei lá se ela usava o dinheiro para o médico mesmo, mas eu fazia a minha parte...). Bem, eu já tinha o diagnóstico: HIV/SIDA. Mas não falava nada com ela. Ou ela não desconfiava mesmo ou tinha pavor de eu descobrir e a demitir por isso. Só sei que a condição de saúde dela estava cada vez pior. Eu comprava vitaminas, comida, tentava ajudar. Mas... bem... só quem já viu os horrores desta doença em um mundo pobre e preconceituoso é que sabe... Um dia não aguentei e comecei a forçar a barra para ela me dizer o diagnóstico, assim, falando abertamente, quem sabe eu poderia ajudá-la de verdade. Ela estava com as pernas enfaixadas e disse ter ido à um neurologista (de acordo com ela: médico dos nervos), eu perguntei o quê ele havia dito sobre o problema dela, e ela me relatou que estava com o sistema nervoso (fiquei feliz por isso, imagine se ela não tivesse um!). Eu insisti: - Mas Isabel, me diga exatamente as palavras do médico. Me diga o que ele disse que você deve fazer. Qual é o tratamento? E ela baixou a cabeça, muito triste, e disse baixinho: é feitiço senhora, feitiço.

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