terça-feira, 21 de julho de 2009

Queima ele!

Eu e meu marido moramos e frente para a praia, um visual muito bonito. O entardecer é um espetáculo. Num sábado desses, estávamos sós, fazendo um churrasquinho, curtindo a vida a dois. Resolvemos descer de casa e ir até a praia, ver o mar de perto, e admirar os rosas e liláses do por-do-sol. Na praia tem um pier comprido, e resolvemos ir até a ponta dele. No percurso passamos por quatro homens, que estavam sentados na beira do pier, tomando cerveja e conversando. Como vivemos em Moçambique há tantos anos, nos acostumamos com a tranquilidade local, e com a ausência do preconceito brasileiro PPP (preto=pobre=perigo). Nem ligamos para o grupo, passamos direto e fomos curtir nosso passeio. Ficamos namorando e vendo as ondas batendo nas pedras... tudo lindo e romântico. Já começava a escurecer e decidimos voltar. No caminho de volta decidimos descer do pier um pouco antes do grupo de rapazes, e caminhar pela areia. Nada de preconceito ou receio, apenas uma alternativa de percurso. Foi quando os quatro começaram a correr e vieram para cima de nós dois. Meu marido me empurrou para eu correr mais na frente e eu saí gritando igual uma sirene louca, enquanto eles o pegaram. Deram-lhe um soco e roubaram o celular. Com o meu escândalo, os guardas do nosso condomínio, e dos vizinhos, correram para a praia para ajudar. Os ladrões começaram a fugir, e meu marido, num súbito ataque-de-muito-macho, saiu correndo atrás deles. Bem, o barraco estava armado, os guardas deram tiro, a polícia-ninja-a-paisana apareceu, confusão total. No meio da confusão meu marido ainda estava desaparecido, correndo atrás dos ladrões, e eu histérica procurando por ele. Um português e seu filho, de uns 12 anos, surgiram do além e tentavam me acalmar. Nesse momento, os guardas aparecem de volta carregando algemado 1 dos bandidos. Na delicadeza do cacetete, o empurravam pela rua, conduzindo-o para a guarita de segurança, e eu fui andando um pouco atrás, com o portuga e o filho do meu lado. Os guardas disseram que estava tudo bem com meu marido e que ele estava com os policiais ali perto, já “havia de vir”. Enquanto caminhávamos, o moleque português procurava me tranquilizar... a senhora pode ficar calma, já pegaram um dos bandidos, vão pegar os outros, e agora vão tocar fogo nele! Eu disse: - Quê isso criança!?! Não vão fazer isso não! Tá maluco? Mas o moleque estava animado:- Ih, Senhora! A senhora não sabe nada. Aqui é assim! Quando pegam bandido, queimam eles! E correndo para o guarda, gritou: - Queima ele, queima! PS: Claro que não o queimaram. PS2: E claro que não fiquei calma até que os bandidos foram colocados na mala de um carro e levados para a delegacia. PS3: Na mala mesmo.

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