sexta-feira, 24 de julho de 2009

Eu queria um misto-quente

Aqui em Moçambique temos que ter cuidado ao nos expressar. A língua, apesar de ser oficialmente a mesma que falamos, tem muitas diferenças. Diminutivos nem sempre são entendidos, gerundios nem pensar!, formalidades são exigidas, e frases coloquiais devem ser abortadas. Sem falar do vocabulário! Xícara é chávena, vaso sanitário é sanita, varal de roupas é estendal, isopor é esferovite, mesa de escritório é secretária, escritório é gabinete, van é carrinha, bolsa é pasta, legal é giro, de graça é de borla e carona é boleia. Pequeno dicionário da língua portuguesa. Se eu quero chamar um garçom no restaurante devo falar: “se faz favor”; se eu quero dizer que entendi o que estão me falando, eu digo: “percebi”, se estou te falando algo, “estou a dizer”, se algo demora muito: “há de vir”, se quero jogar um papel no lixo, peço para “deitar fora”, eu não coloco uma blusa de frio, eu “meto uma camisola “, e por aí vai... Um dia cheguei no escritório cedo e não havia ainda tomado meu café-da-manhã (não havia mata-bichado, ou tomado meu mata-bicho), e fui pedir então para um ajudante comprar um misto-quente para mim (uma tosta-mista), ou um sanduíche qualquer (uma sandes), na lanchonete (pastelaria – mas não vende os nossos pastéis, e sim bolinhos e sanduíches). Eu disse (rasgando o meu moz-português): - Sr. Paulo, se faz favor, podes ir na pastelaria para mim? Eu queria uma tosta-mista. E ele, rindo da minha ignorância: - Não Dona ... A senhora não QUERIA uma tosta-mista. A senhora QUER uma tosta-mista. Eu concordei.

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